
Com quase uma década no mercado financeiro aliado à tecnologia, Letícia Moschioni construiu sua carreira fazendo a ponte entre times de produto e negócios. Depois de experiências na Cielo e na Mobile2U, onde se tornou sócia e participou de projetos pioneiros em soluções white label e banking as a service, decidiu fundar a Finscale, hub dedicado a ajudar empreendedores a estruturar e escalar suas próprias fintechs. De acordo com a executiva, durante sua participação no Let’s Money Podcast, o movimento de bancarização de diferentes indústrias foi determinante.
“Como eu fazia esse meio de campo entre time de tecnologia e negócios, percebi que muitos empresários não tinham clareza do que era preciso para operar uma fintech. Decidi fundar a Finscale para ajudar em todas as frentes e não só com tecnologia. O mercado já tem um milhão de fintechs, então você precisa entender qual é o diferencial competitivo. Se for lançar uma conta digital sem proposta de valor clara, a chance de dar errado é enorme.”
Finscale em como criar uma fintech em 2025
Se no boom das fintechs a corrida era por lançar novas contas digitais ou gateways de pagamento, em 2025 a realidade é outra. O mercado está saturado e exige clareza estratégica. A proposta de valor, o nicho escolhido e o modelo de negócios são determinantes.
“Costumo brincar com meus mentorados que, se você precisa gastar infinitamente para conquistar clientes, já começou errado. O caminho é validar uma tese com a base que você já tem, seja 100 ou 500 clientes. Testar hipóteses sem investimentos desproporcionais é o que diferencia quem sobrevive no mercado. Nosso papel na Finscale é justamente trazer os erros e acertos acumulados no setor para orientar o próximo passo de quem quer empreender em finanças.”
O método Finscale para fintechs
A Finscale consolidou sua metodologia após atender centenas de empreendedores. Atualmente, a empresa atua em quatro pilares: Formação, voltada para profissionais que desejam ingressar no setor; Clube, comunidade com eventos e networking; Sprint, projetos de escopo fechado para validar ideias ou conquistar licenças; e Expert, consultoria contínua que é o carro-chefe da operação.
No centro do método está o mapa de oportunidades, construído a partir de reuniões de onboarding. Ali, são avaliados o perfil da empresa, número de clientes, faturamento, dores e custos. A partir dessas informações, a Finscale desenha cenários financeiros, aponta possíveis linhas de receita e calcula o payback do projeto.
“A primeira entrega que fazemos é viabilizar financeiramente a operação. Criamos uma DRS simplificada, mostrando quanto precisa ser investido, em quanto tempo haverá retorno e quais premissas devem ser alcançadas. Isso dá clareza e até fortalece a negociação com parceiros. Não basta escolher tecnologia pela taxa mais barata, é preciso alinhar estratégia, custos e metas de longo prazo.”
Nicho como diferencial competitivo
Para Letícia, a chave de 2025 está em construir fintechs de nicho. A era das contas digitais genéricas já passou; agora, o jogo é atender dores específicas de comunidades ou setores.
“O mercado amadureceu e exige foco. Fintechs de nicho, como as voltadas para mulheres empreendedoras, profissionais autônomos ou comunidades regionais, têm muito mais chances de prosperar. Não é o número de contas que determina o sucesso, mas sim a retenção e o valor gerado para quem já está na sua base. Se o produto resolve uma dor real, mesmo com poucos milhares de clientes, pode ser altamente lucrativo.”
Finanças embarcadas e ecossistemas
Outro movimento que ganha força é o das finanças embarcadas. Em vez de criar fintechs do zero, empresas de setores como educação, varejo e transporte estão integrando soluções financeiras às suas operações.
“Vemos escolas criando meios próprios para parcelar mensalidades, empresas oferecendo crédito a colaboradores e transportadoras desenvolvendo soluções para caminhoneiros. Tudo isso é fintech. Não precisa ser a conta principal do usuário; basta resolver uma dor específica com eficiência. O Open Finance potencializa esse movimento, trazendo dados que permitem ofertas personalizadas e fidelização.”
Desafios e riscos para novos empreendedores
Apesar das oportunidades, Letícia alerta que o mercado exige cautela. O aumento da regulação do Banco Central e a corresponsabilidade sobre riscos como fraudes trazem complexidade. Muitos fundadores ainda subestimam o que significa lidar com o dinheiro dos clientes.
“Não adianta terceirizar tudo e achar que o parceiro vai resolver sozinho. Se houver fraude, a responsabilidade pode ser sua. Já recebemos clientes que assinaram contratos leoninos sem entender as cláusulas. Nosso papel é justamente preparar o empreendedor para lidar com esses riscos, mostrando o que precisa ser internalizado — compliance, times de produto, tecnologia e monitoramento. Construir uma fintech é construir um negócio completo.”
Pilares para o futuro das fintechs
Ao olhar para frente, Letícia aposta em três grandes pilares: tokenização de ativos, fintechs de nicho e ecossistemas com finanças embarcadas. Para ela, o Brasil segue como um dos mercados mais inovadores do mundo em pagamentos e serviços financeiros, mas será cada vez mais exigente com quem deseja empreender.
“A tokenização vai democratizar o acesso a investimentos, transformando ativos físicos em digitais. As fintechs de nicho vão crescer porque entregam identidade e propósito ao consumidor. E as finanças embarcadas vão se tornar quase obrigatórias em setores tradicionais, como varejo e educação, porque aumentam vendas, fidelizam clientes e reduzem custos. O futuro está em criar soluções que façam sentido dentro de ecossistemas já consolidados.”
Construir uma fintech em 2025 é um desafio que vai além da tecnologia. É preciso clareza estratégica, atenção regulatória, capacidade de execução e, acima de tudo, foco em gerar valor real para o cliente. A Finscale surge como parceira estratégica nesse processo, transformando a experiência acumulada de Letícia Moschioni e sua equipe em metodologia prática para empreendedores e empresas que desejam entrar — ou se fortalecer — no universo das finanças digitais.